AS TREVAS DO MEU TEMPO ESTÃO DENTRO DA LEI
de Patrícia Galelli
2018 (outubro de 2018)
Cartaz reeditado em papel jornal Norbrite, área de tamanho A2, com impressão nos dois lados. Em um lado, que poderia ser chamado de frente, a frase “as trevas do meu tempo estão dentro da lei”, em uma mistura de fonte de diferentes famílias, variando com letras em maiúsculas e minúsculas. O desenho e preenchimento das letras não é opaco, demonstrando a textura de carimbo chumbo. No outro lado, que pode ser chamado de verso, um texto ocupa 90% da área impressa de fundo cinza.
Na virada de 2017 para 2018, um grupo de artistas se reuniu em uma pousada que um escritor da região do vale do estado tinha acabado de fundar, a Quinta da Gávea, de Cristiano Moreira. Um espaço retirado. No vislumbre de um ano que virava de um golpe para um ano de eleições no Brasil, o grupo levantava possibilidades de trabalho na área artística e editorial, confabulava sobre o quão absurdo era o cenário político do país, como as leis eram uma extensa literatura com interpretações distintas e como seria fazer revolução sem armas. [verdade mais amarga, cuspe de graxa, usina de contingência UM TIRO UM TIRO UM TIRO UM TIRO, vai dar tudo errado...] Dentro da pousada havia uma biblioteca com uma oficina tipográfica com nome de Papel do Mato. Durante o dia 31 de dezembro, o grupo experimentou ácidos e impressões com tipos móveis. Patrícia listou as frases e imprimiu, usando tinta vermelha, 10 cartazes com a frase “as trevas do meu tempo estão dentro da lei”, apresentando-os como um aceite à provocação de Giorgio Agamben, em O que é o contemporâneo? Ela mesma diz que o cartaz procura olhar para as trevas do tempo presente. Para compor a frase na rama, foi cumprido o quebra-cabeça e a técnica secular, do passado, mas a frase é do presente, numa manifestação para não deixar de dizer com o que se tem.
Após as eleições, a artista escreveu dois textos a partir desta frase. Um deles foi publicado no livro Escovar a história a contrapelo, organizado por Aline Natureza e Kamilla Nunes, e o outro foi enviado por email para a editora (vínculo político-afetivo). No aniversário da artista, a editora — que já publicou diversos trabalhos dela — a presenteou com 500 exemplares desta edição: uma folha com uma das faces fac-similar ao cartaz original e a outra face com o texto pós-eleição que ela havia enviado por email. O cartaz está sendo utilizado nas manifestações #forabolsonaro, contra a reforma da previdência, contra cortes na educação, contra quase tudo, contra o ruído da grande depressão: temos que dar conta. tá tudo bem, só que não tá nada bem.