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EU PREFERIRIA NÃO

de Gabi Bresola, a partir de Herman Melville

2016

Livro em formato de papel ofício, 70g/m², com dez páginas brancas, impressas com tinta cinza escuro. A mesma frase se repete em cada um delas: “— eu preferiria não”. Blocadas como notas fiscais, seu invólucro é um envelope amarelo, que chamam na papelaria de escritório de “envelope papel ouro”, no tamanho de 26x36cm. No lado de fora, uma etiqueta branca com uma tabela onde se dispõe, como um cadastro de processo, o título, o ano e demais créditos.

 

Esta publicação apropria-se da repetição da frase pelo personagem protagonista no livro Bartleby, o escrivão, de Herman Melville. Um escrivão que vive no meio de carimbos, escrituras, notas e burocracias, na Wall Street, com chefe e colegas batendo ponto, entrada e saída, em situação parecida de trabalho que uma grande parte dos seres humanos vive. Bartleby esconde-se no seu canto, imperturbável, e recusa-se a fazer tarefas com uma invariável e desconcertante frase: “— eu preferiria não”. Em outras traduções, aparece como: “preferia não fazê-lo”, ou “acho melhor, não”. No caso, não fazer, pode não significar fazer outra coisa no lugar, mas demonstra uma reação apática, uma situação meio doentia de estado de trabalho.

 

O ato da edição consiste em apagar, ou deixar de lado, todo o texto que é narrado pelo dono do negócio: um advogado. Permanece assim, só a frase que é dita e repetida ao longo do livro por dez vezes pelo funcionário Bartleby: desde o momento em que retrata a vida de um funcionário que faz seu trabalho de acordo com os pedidos e demandas, no início do livro, até a negação e consequentemente a desistência, a morte do personagem no fim do livro. A narração de um período que resume um ciclo vital de trabalhadores infelizes exercendo funções repetitivas, burocráticas, massivas; que racionalizam movimentos do corpo e da cabeça em atividades mecânicas. Profissões que grande parte de funcionários realiza em cartórios, repartições públicas ou em empresas, gastando grande parte do tempo diário de vida.

 

Oh, Bartleby! Oh, Humanidade!

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