SENTIDO INTERIOR
Coletivo Entre Linhas [Luana Callai e Kika Chmura]
2024
Esta publicação é um desdobramento do projeto
Entre Linhas, e é composta por:
- lambe aqui [cartaz para recortar e fazer lambe 60x44]
- pega na enxada, trabaiá [cartão postal]
- o ciúme não é de deus [cartaz A2]
- fofoca? [dupla de cartelas A5]
- rotina [cartaz A4 com texto]
- aqui tá chovendo e aí tá chovendo? [cartaz dupla face sanfonado]
- eu amo minha comunidade [adesivo]
- 100% da roça [imã]
- praplantá [envelope de sementes crioulas]
- envelope-capa [envelope com título]
Sentido interior publicação do projeto
Entre Linhas revela arte urbana no campo
Lançada pela plataforma Editora editora, a publicação reúne um extenso documentário gráfico que registra e difunde o trabalho das artistas do Coletivo Narua com lançamentos em
Ouro/SC, Rio de Janeiro/RJ e Recife/PE
Há poucos anos o meio da arte começou a dar atenção aos movimentos que já existem e aos que surgem em cidades afastadas de grandes metrópoles sem colocá-los nas categorias de regionalistas. Mostrar que existe arte em pequenas cidades interioranas e que sua forma não é apenas regionalista é uma tarefa diária de artistas que produzem incessantemente e buscam seus espaços de visibilidade. Um dos projetos que já faz isso desde 2021 é o Entre Linhas.
Fundado por Luana Callai e Kika Chmura, na região do Meio Oeste catarinense entre Ouro e Capinzal, Entre Linhas é um projeto fotográfico de intervenções urbanas que percorre as linhas e comunidades rurais fotografando a rotina dos pequenos agricultores. Depois de retratar as atividades de plantio, pesca, colheita, vida doméstica e detalhes de cada particularidade das pessoas fotografadas, as artistas selecionam as imagens e criam recortes e colagens de grandes dimensões aplicando em muros e espaços das áreas urbanas das cidades. Neste período o projeto já passou por mais de 18 comunidades e expôs o trabalho artístico resultante nas cidades de Ouro, Zortéa, Capinzal, Criciúma, Joaçaba e Florianópolis.
“A lógica é entrar no fusca e passar pelo interior, a gente teve a ideia e foi fotografar sem saber ao certo no que iria dar, mas o que impressionou foi a recepção das pessoas, elas nos receberam muito bem, aceitaram ser fotografadas sem saber o que iria acontecer depois, porque dificilmente as pessoas sabem o que é lambe (...) se você fala em grafitti, mural, as pessoas entendiam. A cidade nunca teve esse contato com técnicas de arte urbana para além da publicidade e propaganda, são lugares que praticamente não tem arte urbana, e o Entre linhas nasce aí: arte urbana em pequenas cidades, foi nossa primeira intenção” conta Kika Chmura.
A temática que apareceu no início do trabalho foi a vida contemporânea no campo: “A gente começou com as pessoas da agricultura, e se tornou um coletivo pela vontade de abrir mais e também tocar em outros assuntos para além dela, para tratar de assuntos e pessoas que são invisibilizadas diariamente. Primeiro chamamos de coletivo Se essa rua fosse minha, mas que logo depois virou Coletivo Narua. (...) Na vontade de trazer para a rua esse espaço do visível, de pensar na rua como espaço de convivência. Olhar pros espaços, selecionar as imagens e pensar em como elas dialogam com os eles, colar figuras gigantes para que sejam vistas nos caminhos que os habitantes fazem todo dia.
E o mais incrível é ver as pessoas reconhecendo as figuras que são retratadas nos muros e o reconhecimento delas, que geram o reconhecimento e o pertencimento. Tanto no espaço físico quanto a partir das redes sociais” destaca Luana Callai.
O volume de materiais produzidos e arquivo produzido foi grande e com isso veio o desejo de entendê-lo em outros suportes. O coletivo já produziu vídeos, circulou em festivais e exposições e agora lança uma publicação com 300 exemplares para que possa alcançar novos lugares e públicos.
Inicialmente seria um livro de fotografias “nós pensávamos em um fotolivro pois o projeto todo é uma brincadeira que coloca em opostos: cidade x campo, fotografia x lambe, efêmero x permanente. Quando chamamos a Editora editora, uma plataforma de publicações independentes, para editar entendemos que um livro em seu formato tradicional não conversaria com o público fotografado. A cultura local não possui bibliotecas e a ideia de livro tradicional não faz parte dela, por isso a vontade era também de se aproximar de alguma forma de algo que ao receber, o público pudesse fruir da publicação não só olhando e folheando, mas também ‘usando’ ela.
Passamos uma semana em uma residência editorial e construímos juntas um envelope com vários itens dialogam com diferentes públicos” conta Kika.
“Observamos e discutimos muito sobre quais elementos gráficos fazem parte da vida das pessoas que participaram do projeto, e veio de tudo: ímã, santinho, calendário, anotações, imagens religiosas, livrinhos de receitas e ervas. Foi a partir dessa percepção que criamos a edição, um envelope cheio de coisas que as pessoas poderão conhecer o que foi o projeto e se sentir parte do coletivo, pois vem imagens para recortar e colar, vem textos para ler, coisas pra olhar e até coisa pra plantar, pois dentro do envelope vem sementes crioulas de pipoca, tudo em material simples e montado manualmente, um por um. Utilizamos papéis kraft e branco conjugando com o colorido das fotos e o roxo e laranja que são da marca do projeto” relata Gabi Bresola, da Editora editora.
A publicação intitulada de Sentido interior é um envelope composto por 10 itens, entre eles adesivo, ímã, sementes, cartão postal, cartazes em diferentes tamanhos e livretos com costura, carimbo e dobra, tudo com acabamentos manuais e com textos retirados das conversas de cada visita. “A gente conseguiu dentro de um envelope colocar essa mistura do rural com o urbano, as fotos, nossos caminhos pelas linhas e a voz das pessoas. Pra mim o que resume a publicação é um imã que vem dentro no qual está escrito “100% roça” em letra de pixo” revela Kika.
Depois de meses de criação e tradução do projeto para o espaço impresso, o Coletivo e editora levam a público o resultado. Sentido Interior tem lançamentos marcados em três cidades do país. O primeiro deles é na cidade de origem Ouro, no sábado dia 07 de dezembro, no Bar Recalcatti Linha Vitória, a partir das 18h. O segundo é durante a Feira Tijuana nos dias 07 e 08 de dezembro, na Casa França Brasil, Centro do Rio de Janeiro. E o terceiro no dia 14 de dezembro durante a feira Cria, em Recife/PE.
O financiamento da impressão da publicação foi realizado através do Edital Lei Paulo Gustavo LPG/SC 2023 – Executado com recursos do Governo Federal e Lei Paulo Gustavo de emergência cultural, por meio da Fundação Catarinense da Cultura.
A publicação tem parte de sua tiragem distribuída do edital gratuitamente para participantes, acervos e escolas da região e outra parte através da editora pelo valor de R$ 80,00